terça-feira, 10 de abril de 2012

Sem A


Sem a tecla A


Péricles Peri

De que jeito começo se inexiste o toque de que preciso? Difícil. Porém desisitir me é impossível. Estou pronto. Hei de ser refém de 1 único toque neste enorme conjunto de opções do escrever? Opto pelo infinito. O infinito menos 1 segue infinito. Se posso escrevê-lo, todo o resto poderei.
Iludo-me. Pressinto que o futuro se escondeu, fico preso num reduto, num gueto do presente. Busco, no escuro, os exíguos instrumentos disponíveis. Com eles crio um esboço, um trêmulo e tímido discurso sem quê nem porquê.
O que você quer ler? Pouco me diz respeito. Se deixo esquecidos os desejos do receptor num texto comum, como segui-los neste trecho troncho, torto, incompleto? Posso escrever sobre dor, desespero, sofrimento, suicídio, morte. Sem o leve toque inexistente seguimos sempre este rumo sombrio? Ou podemos ser felizes sem ele? Tentemos: luz, sonho, voo, vertigem (isto é bom?), emoções, sentidos, ópio, sexo, desejo, forró, futebol, festejos, júbilo! Felizes? É possível, porém seguimos incompletos.

Penso que vivo? Sobrevivo. Meu corpo foi dividido e o que restou é ínfimo: pés, olhos, ouvidos, cérebro (que deixou de produzir), músculos (sem sinônimo do movimento), rins, intestinos. Insuficiente viver.
Dos períodos de tempo que nos regem, dispomos do minuto e do segundo. Ou dos séculos e milênios. Porém onde se esconde o conjunto de 60 minutos? E se dividirmos 12 meses nos conhecidos 4 motes, só teremos o outono e o inverno.
Triture o conhecimento e convide sociólogos, psicólogos, filósofos, médicos, físicos, músicos e outros. Filólogos e semiólogos podem ser úteis: observem o contexto e mediem um consenso que nos livre desse imbroglio. Embrulho de mentes diferentes com enfeites coloridos, de dentro de cujo cerne pode surgir... um fim.

Inspirado na música de Tom Zé "Sem a letra A".

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